Mea Culpa.latim

"Coloca uma paixão nessa sua cara, um pouco de cólera. Depois aperta no interfone, sobe as escadas e aí sim, passa a noite comigo"

"Tá errado, não é assim, merda!" - qualquer diretor de teatro diria issoao ver alguma interpretação de Shakespeare, 'Macbeth', por exemplo, uma história visceral.
Todos andam, com poucas exceções, vivendo seus dias pequenos e sem emoção, paixão, voos, cólera. Essa é a palavra, cólera! Shakspeare exige vida, raiva, paixão, e poucos sabem dar isso hoje em dia; pois dentro de veículos, todos naftalinados com promoções da Renner veem o Sol através de gente igual, entupida de remedinhos. "Vivendo", assim mesmo, entre aspas. Vivendo um dia de cada vez. Um dia de bonzinho, um dia de puta, um dia de amigo, um dia de namorado, um dia merda.Ou, se preferir, vive 1 dia.
Sem me excluir dessa porção, essa é a conclusão que eu chego, estamos cada vez menos coléricos - palavra feia, eu sei, mas de grandíssimo significado - no mais antigo sentido da palavra. Entende ?
Perde-se a cólera, enrola-se no cobertor, fecha-se as janelas, e vai-se a lugares que o resto vai, sem excluir gírias, hábitos e a maquininha dentro de ti que muda completamente. Iupi!
Vira-se água normal. Água de torneira.
Se eu souber que meu marido está transando com outra, eu suspiro, roo uma unha ou duas, bato o pé mais que o normal esperando o elevador; e durmo em cima do Nescafé pra voltar ao trabalho ou no cursinho. A cólera, a emoção, é Nossa, e não ao contrário. E como é natural do ser humano "previdente-de-um-futuro-melhor-sem-o-presente", abandona-se todo o vermelho do coração depois de uns cortes superficiais.
Não poderia ser mais óbvio, mas Shakspeare ninguém pode fazer hoje em dia, não pela linguagem rebuscada, mas por termos todos esquecidos o que é a velha pai-xão.