Ainda tomarei um café com Leo

Caro Leo

Consegui seu endreço através de sua antiga vizinha de Santo Ângelo. Ela se lembra de um guri parado na porta da sua casa, esperando ansioso alguém atendê-la, isso foi em 1993, 94. Tu lembras dela? E de mim ?

Dizem alguns que tu é loiro, magro e não muito alto, mas eu nem me importo, pra falar a verdade. Eu senti um pouco sua falta nesses anos, e passei dizendo que você estava morto. Desculpe.
Bom, o meu endereço está no envelope, obviamente. Estou sem dinheiro, não posso ir até aí. Gostaria de uma visita sua na minha casa para a gente conversar, passar uma tarde juntos... sair com o pai sempre me pareceu um programa ótimo de domingo. Queria te mostrar os lugares que frequento, o que faço durante o dia, te apresentar à alguns amigos. Mostrar as marcas pequenas de agulha que tenho na cintura, a cicatriz de mordida de cachorro que tenho no braço. Adoro cicatrizes, você tem alguma? Aonde?
Você é casado? Eu namoro há um ano e meio, mas sobre isso conversaremos melhor pessoalmente, você vai ficar surpreso ao saber mais sobre esse relacionamento, enfim...
Bem, eu senti um pouco a sua falta nesse tempo, como já falei, mas ela diminui mais a cada dia que passa, mas quero ver o que temos de semelhança, e ver se tu é mesmo o demônio que eu criei na minha cabeça. Espero que entenda isso, pois minha mão está suando de raiva nesse momento. Sim, isso é pessoal, mas agora passados quase vinte anos, não posso realmente sentir falta do que nunca tive. Mas permito-me ter raiva do que nunca tive.
Contraditório, não?
É quase um masoquismo isso aqui tudo.
Outro motivo dessa carta é saber se você possui alguma doença que me possa ser transmitida hereditariamente. Sabe como é, prevenir é melhor que remediar, sou meio paranóico com isso, então não fique surpreso com essa pergunta, se te ofendi, desculpe.
Minha mãe (lembra dela?) não concordou com essa carta, afinal por que cutucar nisso após quase vinte anos, não é mesmo? Mas eu sou curioso e realmente quero te conhecer, pelo "simples" fato de conhecer, sabe?
Ver se nossas afinidades são as mesmas, ao menos, parecidas. Ver se podemos tomar um café juntos sem ficar aquele silêncio constrangedor de elevador. Espero mesmo podermos tomar esse café. Enfim ,eu tenho o seu sangue, algo em comum temos que ter. Com toda a certeza, eu sou bem diferente do que você está pensando, isso eu lhe garanto; acho que em vários quesitos sou uma negação, e vou te decepcionar, mas sinceramente Leo, sua opinião vale menos do que o tabaco que o Budd masca (gosta de cinema?).
Sobre sua imagem, espero mesmo que seja diferente do cara que desenhei na minha cabeça. A gente nunca conversou, brincou, comeu junto, e nem um centavo você me deu. Esse é um bom começo, o dinheiro. Desculpe-me a franqueza das alfinetadas, mas elas foram mais sinceras do que qualquer indício de carinho nessa carta. Aprecie minha sinceridade, ou não tomaremos nosso café juntos, e acredite, Leo, isso pra mim vale muito.

Um abraço.
Espero que podemos nos ver em breve.

Rômulo M.

Um comentário:

Jefferson Figueiredo disse...

Carta ao papai, uhul

sobre minha lista, se tu gosto, não me importa muito, e se tu colocou o ano ou não, sinceramente não me importa...

desculpe toda a hostilidade, mas eu não consigo engolir umas quieto ok? (mas foi sincero, pense assim, quando der na agenda apertada, velhas pessoas sempre em segundo plano ;D )